A nova fase do Silo Cultural

       
        Ao longo de vinte anos de atuação no setor da cultura, o Silo Cultural exerceu papel importante na valorização da identidade caiçara, na transformação social por meio do processo artístico, no fomento da produção local de espetáculos, shows, exposições e eventos e na proposição de debates acerca dos rumos da cultura tradicional.
  Fazendo um breve passeio por sua vasta história podemos começar no ano de 2001, com sua fundação a partir da remontagem de um silo feito de madeira que viria a abrigar os projetos do artista e produtor cultural Luís Perequê e da bailarina e coreógrafa Vanda Mota. Foi neste ano que a Companhia DançanteAto, fundada por Vanda em 1998, se tornou a primeira atividade do Silo Cultural oferecendo cursos de dança para todas as idades de  várias técnicas e estilos. 
  Já no ano seguinte, 2002 inauguraram a Vila Caiçara onde guiavam um passeio pelos costumes e saberes da cultura caiçara local, passando por uma casa de farinha e uma habitação típica feita de pau-a-pique. 
Somente em 2003 o Silo ganha identidade oficial como Instituto Silo Cultural.
  Em 2005, surge a proposta da Rede de Cultura Caiçara. Trata-se aí de um projeto visando potencializar o espírito tradicional da cultura caiçara espalhada pelo território litorâneo da Mata Atlântica e “congregar as diversas manifestações culturais caiçaras com as discussões sobre o problema da realidade socioambiental dessas comunidades” *. Deste projeto, além de diversas parcerias entre os artistas e os núcleos de cultura, conquistou-se o reconhecimento do segmento caiçara como parte da cultura brasileira.
  A partir daí pelo menos dois movimentos importantes tiveram origem no Silo e merecem ser mencionados. O primeiro, em 2007, intitulado de Movimento Cultural de Paraty que reunia semanalmente alguns representantes da cultura local para debater as demandas dos artistas da cidade e os projetos e caminhos a serem trilhados para estruturar a produção cultural. 
O segundo, em 2008, idealizado por Luís Perequê, originou-se com a criação do conceito "Defeso Cultural”, ideia que buscava proteger e preservar a vida cultural da cidade fora da agenda turística. O nome provém do Defeso Marítimo, quando os pescadores interrompem suas atividades para respeitar o ciclo de reprodução das espécies. Uma das ações a partir desse movimento foi a Caravana Paraty, realizada em 2013, que contou com o apoio da Eletronuclear para levar ao Rio de Janeiro cerca de 160 artistas de Paraty que se apresentaram no CCBB com um público de 5000 pessoas distribuído entre todas as atividades.
  Além desses projetos, em 2011, o Silo inaugurou um novo espaço no centro histórico, também em parceria com a Eletronuclear, onde funcionava sua sede administrativa e eram realizadas atividades como palestras, eventos e principalmente exposições. O casarão também oferecia sua própria programação em eventos como a Flip. Esta sede funcionou até 2017. Desde então as atividades externas ficaram paralisadas seguindo somente produções artísticas de seus fundadores junto a outros parceiros. Nesse período estava amadurecendo uma nova proposta de atuação com base na experiência e análise dos rumos da cultura no país e no município.
  Apesar de ter conseguido se consolidar como peça importante no cenário local de produção cultural, o Instituto sempre foi uma ONG sem fins lucrativos e por esse motivo sempre dependeu de parcerias e apoios para exercer suas atividades. 
Em 2015 o prédio do Silo Cultural foi alugado para o Sesc, que já vinha utilizando essa estrutura e continuou a oferecer cursos de teatro e realizar espetáculos com profissionais de diversas partes do mundo, mantendo o Silo vinculado à agenda cultural do município.
  Agora, cinco anos depois, com o encerramento do lindo ciclo Sesc-Silo, visto a importância de manter esse centro cultural em funcionamento pleno e principalmente, em um momento tão complicado politicamente, conservar a total independência para agir de acordo com os princípios sob os quais foi fundado, o Silo Cultural propõe uma nova fase de sua história, somando ao seu caráter de resistência, identidade e acolhimento um novo conceito de empresa autônoma e sustentável.
            Sob essa nova diretriz, o Silo busca viabilizar ações na área da cultura, oferecendo sua estrutura especializada, sua consolidada reputação no cenário local, sua experiência de atuação e sua abertura e capacidade para enxergar os novos desafios que compõem o âmbito artístico na sociedade contemporânea, fomentando resistência perante obstáculos políticos e econômicos.
           É necessário que haja apoio do poder público à classe artística, mas também é necessário erguer meios dissociados da esfera eleitoral para que as produções culturais não dependam de interesses, posições ou posicionamentos políticos para serem realizadas e é isso que a empresa Silo Cultural tem como principal objetivo, tornar acessíveis as demandas profissionais de artistas independentes para que possam viabilizar seus trabalhos.

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